sábado, 31 de maio de 2008

3 dias para recordar - epílogo

Os anos foram passando, e com eles ficava cada vez mais difícil se manter unido, entrei pra faculdade, o que consumia todo meu tempo, tive que largar os treinos de vôlei, que era mais uma das atividades que sempre freqüentávamos juntos. DM começou a trabalhar, ele sempre foi preocupado com isso, e eu sempre o admirei por isso, por varias vezes alguns empregos dele acabavam afastando da gente, e eu via a tristeza dele por isso, mas também sem dinheiro ele não poderia sair, até que um dia ele também conseguiu um bom emprego e foi inevitável o afastamento dele.

Mais um ano havia se passado, Ramirez a pedido da família viajou sem para a casa de parentes na região nordeste, sem previsão pra retorno, fiquei feliz por ele, pois era importante pro futuro dele, já sua família pretendia que ele fizesse faculdade lá. Depois de um bom tempo fora ele retorna, foi época de festas, ele começou a estudar e trabalhar, e mais uma vez poucas vezes via Ramirez. Certa noite resolvi contar a ele sobre minha sexualidade, e tive um grande e inesperado apoio, ele nunca tocou no assunto, foi como se ele sempre soubesse, ou que isso não fizesse diferença. Apesar de estarmos longe agora já que mudei de cidade, ele sempre me faz convites pra ir com ele a clubes, ou conversamos sobre jogos e computadores, coisa pela qual ele tem paixão, tanto que trabalha e estuda isso. A última vez que o vi foi a alguns dias, numa repentina visita aos meus pais, antes disso tinha o visto a meses atrás em minha formatura. Fiz questão de ir até o trabalho dele onde podemos conversar um pouco, eu vejo como o tempo não o muda, sempre com sorriso no rosto, sempre com o mesmo modo de falar e agir, é realmente uma pessoa muito especial pra mim a qual sempre posso contar.

Algum tempo depois foi a vez de Truga, por causa de alguns problemas familiares, seus pais resolveram ir embora da cidade, quando Truga me contou fiquei muito chateado, e passei a agir com indiferença com ele, não concordava que ele aceitasse tão bem a ida dele, se pra ele nem parecia fazer diferença, então imaginava que ele nem se importasse com nossa amizade. E assim ele foi embora, sem se despedir, sem deixar recado, depois com o tempo entendi que Truga era uma cara que se fazia de durão, e que no fundo estava sofrendo com tudo isso, mas não queria tornar a dor da partida ainda maior, e esse foi um jeito que ele encontrou, talvez antes dele sofrer por saudade ele preferisse sentir indiferente.

Pra minha surpresa, depois de muito tempo sem noticias de Truga, acabamos nos falando já que tínhamos seu primo como amigo em comum, e até recebi algumas visitas inesperadas dele, pois seu pai é caminhoneiro e de vez em quando volta à cidade a trabalho, de certa forma nos reaproximamos. Por obra do destino atualmente estou morando na mesma cidade de Truga, mas apenas depois de seis meses ele me liga, não estava no momento, mas alguns dias depois quando pude retornar, conversamos um pouco, ele sempre com o mesmo jeito, falando mais rápido que pode e eu quase sem compreender o que ele quer dizer, marcamos algo pra fazer qualquer dia desses, ele disse que me apresentaria umas “cocotas”, o que eu achei até engraçado, Truga sempre foi super tímido, e as freses rápidas e cheio de gírias o descrevem corretamente, ele nunca foi do tipo garanhão e também ainda não sabe que as minhas preferências não são lá muito grande pelas “cocotas”, alias ele é o único que não conversei sobre isso, talvez pelo seu jeito mais fechado mesmo e por ser uma pessoa que dificilmente mostra o que ta sentindo.

Como deu pra perceber, foi praticamente inevitável o afastamento dos meus amigos, com DM começou pela igreja, onde éramos os mais ativos, ajudando a comunidade, e desenvolvendo alguns projetos com outras pessoas, tudo isso até eu ficar sabendo de um boato de um garoto conhecido se afastar da igreja, ou melhor, virarem as costas pra ele por descobrirem que ele era homossexual, foi o que bastou para meu afastamento, não queria estar em um lugar hipócrita que prega o amor mas não o pratica, esperei finalizar meus projetos, e nunca mais voltei a participar da igreja. Depois de um tempo DM também começou a enxergar algumas coisas também que já comentávamos entre nós, e também acabou se afastando.

Por causa de compromissos tanto deles com trabalhos e namoradas e meus com faculdade, nossos encontros eram pouco freqüentes, mas continuamos firme e forte na amizade, em certa altura nas véspera de natal, um sofrimento que já era um pouco constante me fez escrever uma carta a DM, onde eu lhe revelava algumas coisas que eu escondia dele como eu mesmo havia prometido a muito tempo atrás, principalmente o fato de gostar de garotos, sobre os meus sentimentos em relação a ele eu não contei, e também não achei necessário, alias o que eu sentia por ele era realmente uma admiração muito grande, que em uma fase da vida acabei confundindo com sentimentos além disso, mas estava bem mais seguro quanto a isso.

Lembro que realmente achei que DM nunca mais voltaria a falar comigo depois daquilo, ele foi o primeiro amigo que contei coisas que até então eram intimas, mas ele como um bom amigo jamais me abandonou, queria me ajudar mesmo sem saber ao certo como fazer isso, no mesmo dia comemoramos o natal com uma grande festa, onde ele me fez perceber que minha amizade pra ele também era importante tanto quanto ele era pra mim, creio que ele já imaginava que eu tinha algo bem importante pra dizer, mas não conseguia, nem mesmo bêbado. Certa vez, um pouco alterado pelo álcool consegui apenas dizer que estava sofrendo muito e que estava fazendo consultas com uma psicóloga.

Mesmo relutando para que não acontecesse, continuávamos nos afastando, pessoalmente não temos contato a um bom tempo, mas sei que ele continua como sempre, namorando muito, afinal as garotas se derretem por ele, e fazendo muitos amigos com seu jeito brincalhão. Um amigo que realmente faz falta, às vezes penso que deveria ter me esforçado mais pra ficarmos mais próximos, mas também penso que isso nunca abalou nossa amizade, quando nos encontramos, é como se nada tivesse mudado, é só sorrisos e histórias. Aprendi a valorizar muitas coisas em minha vida, e a amizade foi uma delas, amo meus amigos, e guardo na memória momentos felizes com os mesmo, espero que eles saibam que sempre os lembrarei com muita saudade, e que meu amor por eles é eterno, bem como sei que um dia o sonho do DM ainda vai se realizar, e nós estaremos todos reunidos em sua casa em um grande jantar, contando histórias da vida que infelizmente não podemos compartilhar, e com certeza relembrando aventuras do dia em que quatro amigos resolveram passar três dias longe de casa.

Um comentário:

Rafael disse...

=')
que história mara!
Adoreeeei! Vamos ver o que vem por ai no livro de sonhos!
heheh