sábado, 31 de maio de 2008

3 dias para recordar - parte 8.


Por volta das três da tarde de domingo, o irmão de Truga chega com a caminhonete para nos buscar, mais que depressa colocamos tudo o que havíamos trazido para os três dias de acampamento, lona, cordas, bola, aparelhos de som, entre outras coisas. Era hora de voltar a velha rotina, por uma lado era bom, já estávamos num racionamento de comida forçado, nunca vi uns moleques tão esfomeados quanto Truga, Ramirez e DM, seria bom chegar em casa e comer de verdade.

DM ainda conseguiu aproveitar o tempo até a chegada da carona pra casa, mesmo com os garotos do bairro por ali, talvez as distrações na piscina o estivessem ocupando demais pra pensar em algo pra nos aterrorizar.

Assim que a caminhonete estava carregada com nossas coisas, era hora de partir, pulamos felizes para a traseira da caminhonete, e em meios a gritos e barulhos de comemorações, falamos para o irmão de Truga que ele já podia partir. Algumas aceleradas depois percebemos que a caminhonete não sai do lugar pra nossa mudança de expressões faciais instantâneas.

“Truga, o que ta acontecendo!?”

“Não sei não, vamos descer e ver o que ta acontecendo pessoal!”

“Não é possível! A gente tá atolado!”

“Vai galera, empurrem que meu irmão vai acelerar!”

“Não ta dando certo, ta atolando ainda mais, as quatro rodas estão atoladas!”

E não era à toa, o lugar feito para estacionarem os carros, antigamente era um banhado onde eles usaram vários caminhões de terra para cobrir, como no primeiro dia quando tínhamos chegado choveu muito, a terra agora parecia uma massa mole, somado com o peso das nossas tralhas e mais o nosso peso na caminhonete, fez com que as quatro rodas afundassem.

E não tinha jeito, se continuássemos tentando empurrar afundaríamos cada vez mais como estava acontecendo. Algum tempo depois muita gente foi se juntando em volta pra saber o que estava acontecendo, e de repente aquilo já era uma multidão. Era o que faltava, agora sim se os garotos quisessem, teriam motivos de sobra pra piadas durante um ano.

O pior de tudo é que cada um que vinha, trazia uma Idea, correntes na roda, empurrar, cavar, e nada dava certo. Já estávamos pretos de lama, e alguns caminhoneiros que estavam estacionados ali tentaram ajudar amarrando cordas na caminhonete e tentando tira-la do atolamento com o caminhão.

De início começou a funcionar, mas de repente, o próprio caminhão também deu sinais de que iria afundar e atolar, o chão estava muito macio, qualquer peso a mais fazia afundar como arei movediça. Depois de varias tentativas, já estávamos ali a mais de uma hora, e nada dava certo, até que colocamos a mão na massa, cavamos as quatro rodas e colocamos apoios de madeira, finalmente funcionou, conseguimos desatolar, e pra não correr o risco mais uma vez decidimos subir na caminhonete novamente só depois de estarmos perto do portão.

Agora sim, comemorando mais que nunca, nos despedíamos de vez do lugar por onde três dias vivemos momentos felizes que jamais esqueceríamos, nos conhecemos melhor, e nos unimos muito mais, com um ultimo olhar naquele balneário, tive a certeza que havia mais que valido a pena, e num pensamento alto solei um “Valeu a pena, não é?”

E com sorrisos e risadas, se entreolhamos e quase que em um coro, respondemos uns ao outros:

“FOI DEMAIS!”

A caminhonete balançava na estrada de terra, rumo á avenida mais próxima, e eu deitado e exausto admirava o céu, era um lindo domingo de céu azul, imaginava como seria bom poder dormir em minha cama, e relembrava todas os momentos que compartilhei risadas com meus amigos, e percebi o quanto era fácil ser feliz ao lado deles, e o quanto era importante eles estarem fazendo parte de minha vida.

Quando a caminhonete parava de tremer por ter já entrado na avenida principal rumo ao centro da cidade, já lembrava que no dia seguinte acordaria cedo, e começaria tudo de novo, os mesmos problemas em casa, no colégio, e me recordava da realidade que se aproximava, pensando se algum dia tudo isso voltaria a se repetir. Imaginava um dia quando todos nós estivéssemos mais velhos, assim como DM sempre costumava a me contar o que via em seu futuro, todos nós com uma vida muito boa, alguns com filhos, felizes, juntos em algum churrasco, em algumas férias, sem preocupações. E ao olhar os meus amigos cansados, depois de um bom papo durante a viagem, e imaginado se acreditariam em tudo o que nós passamos.

Alguns dias depois do acampamento, as histórias entre nossos outros amigos ainda continuavam, agora existia até uma paródia com a música da banda Ramones, onde a letra contava algumas das desventuras que só entenderíamos, e era engraçado ver as meninas cantando aquelas canções, que ouvíamos por mais alguns meses. DM, Ramirez, Truga e eu, continuamos a nos ver constantemente ao longo dos anos, mesmo eu mudando de colégio algum tempo depois, ainda assim sempre estávamos um na casa dos outro jogando vídeo games, e também tinha as reuniões dos jovens e adolescentes e gincanas na igreja onde sempre íamos, um motivo a mais pra se ver e se divertir.

Um comentário:

Rafael disse...

ainda bem que os garotos não viram o carro atolado! rs