segunda-feira, 7 de abril de 2008

3 dias para recordar - parte 1



Sempre gostei de aventuras, e não existe pior tortura para pessoas como eu do que cair na rotina. Lembro que em certa época do ano de 2003, tinha apenas 16 anos e um mundo de dúvidas, que só não eram maiores do que meu mundo de idéias.
Minha cabecinha podia ser comparada a uma grande panela de pipoca, onde a cada segundo planos e mais planos estouravam, e numa dessas tive a brilhante idéia de programar um feriadão perfeito, com amigos, fogueiras, risadas, e diversão, mas é isso... é perfeito, um acampamento! Mas antes de divulgar tal idéia seria bom primeiro verificar todos os detalhes como disponibilidade dos amigos, tempo, datas, e claro o mais importante e difícil, autorização dos pais. era bom fazer uma lista também, de coisas que eventualmente precisaríamos, afinal três dias longe do conforto de casa seria preciso pensar muito bem no que levar. Barraca, lanternas, comida, jogos, música e tranqueiras inúteis que fazem volume mas nos dão conforto, tudo planejado, agora acho que tá na hora de uma opinião de algum amigo.
DM era meu melhor amigo, um cara que sempre apoiou minhas idéias, sempre me incentivou e me admirou, não tanto talvez quanto eu o fazia por parte dele, afinal era ótimo ter um amigo popular, bonito, alegre, a qual todos queriam se aproximar e ter contato, talvez a beleza ajudasse nisso, ou talvez ele fosse um cara muito carismático mesmo, ou quem sabe os dois juntos o faziam quase perfeito.
" Oloco "D"! claro que vamos sim, é perfeito, ainda mais com a chegada desse feriadão ai!"
" Você acha mesmo DM? sei lá, eu ainda não sei quem chamar, sabe .. é complicado.."
" Pois é, e as meninas? pensou em chamá-las? "
" Na verdade eu até pensei... mas eu acho que só vai ser dor de cabeça, você acha que a mãe de alguma delas deixaria elas acampar com garotos? só se elas fossem malucas, e mesmo assim a responsabilidade seria toda nossa, seria um saco, não quero cuidar de ninguém! "
" Pensando por esse lado... sem falar que são cheias de frescuras, imagine-as no meio do mato, vamos só chamar os moleques então!"
E durante a semana convidamos todos os amigos que tenhamos mais contato, apesar da vontade de muitos, era quase impossível que fossem, afinal eu com 16 anos era o mais velho, e no fim das contas os que tinham maiores possibilidades de irem mesmo eram DM, Truga e Ramirez, os três com 15 anos. Talvez por serem ótimos filhos e seus pais terem mais confiança, ou talvez por serem mais liberais mesmo e pouco preocupados, o que eu acho mais difícil.
Todos nós eramos ótimos amigos, crescemos no mesmo bairro e fazíamos quase tudo junto, mas as aventuras anteriores resumiam-se a jogar futebol na rua, jogar video game até altas horas da noite, ir para festas, construir clubes em árvores e demais atividades do gênero. Os clubes que construíamos em árvores geralmente só nos rendiamos trabalho duro e competitividade, já que dificilmente alguém predisponhava-se a dormir no clube e fazer a vigília, motivo pelo qual não eram muito duradouros. Certa vez um garoto morador da favela que quase todos odiávamos, invadiu o clube pela noite e defecou lá dentro, foi o fim de mais um clube, já que era impossível jogar baralho ou fazer qualquer outra atividade interna devido ao cheiro que se impregnou e nunca saiu nem a base de detergentes potencializados.
Morávamos próximo a algumas favelas, eramos garotos de classe média baixa, mas classe social nunca nos limitou em nossas amizades, tinhamos amigos ricos, pobres, e muito pobres ao qual sempre nos reuníamos diariamente na rua para brincarmos de qualquer coisa. Mas também era bem fácil se meter em encrenca já que os meninos moradores da favela pareciam adorar se sentir mais poderosos se alguma maneira, mesmo que na força bruta.
Quando finalmente de todos as pessoas que convidamos, somente os quatro: DM, Ramirez, Truga e eu confirmamos com a familia a ida para o acampamento, reunimos tudo o que iríamos levar de uma lista que fiz chamada de "coisas essenciais", já que a intenção era ir pra se divertir e não passar apuros. No dia antes de partimos surgem os primeiros problemas, a quantidade de coisas que se juntará deixava praticamente inviável a possibilidade de ir de ônibus como planejado, além de que aconteceram alguns problemas com a família de Ramirez ao qual sua familia acabou proibindo-o de ir, aquela velha história, preocupações entre outras coisas.
Felizmente o problema de como levar as tralhas foi resolvido, a familia de Truga trabalha fazendo mudanças, e o irmão de Truga disse que nos levaríamos junto com as coisas até o local que era bem afastado da cidade. Agora faltava apenas o menor e mais difícil detalhe, conquistar a confiança dos pais de Ramirez para que o mesmo pudesse liberar o filho para ir conosco, a tarefa ficou pra mim e para o DM, isso para nós era a coisa mais chata de se fazer, quando a gente já passa dos 12 anos, começamos a percebe o quanto os nossos pais ainda insistem em nos tratar como bebês, e pedir permissão pra tudo é o que nos faz sonhar nessa idade em ter 18 anos logo. Por sorte o DM era a pessoa mais cara de pau que já conheci, e o filho da mãe tem uma lábia do caramba, e eu, não sei, diziam que minha cara de garoto responsável o "menino de Deus" sempre ajudava nessas coisas, e talvez por isso, depois de uma longa conversa com a mãe e depois com o pai de Ramirez conseguimos o seu passe para três dias longe de regras, familia chata, e mesmices, dava pra ver na cara de Ramirez a alegria por poder estar junto com a gente nessa que prometia ser uma grande aventura, alias, todos estávamos muito felizes por podermos ficar um pouco longe de nossas rotinas chatas.
Poucos instantes antes de partir tem toda aquela cerimônia chata de recomendações e conselhos por parte de nosso pais, os meus eram muito autoritários, pra dormir na casa de um vizinho era impossivel, meu pai sempre todo preocupado e sempre pensando nas piores possibilidades, os pais de DM eram sossegados, ele tinha muita intimidade com a mãe e seu pai pouco se importava com que ele fazia da vida, já os pais de Ramirez e Truga os tratavam como se os mesmos tivessem 3 meses de idade, ficavam no pé e eram sufocantes, tinha até um pouco de receio da ida deles, imaginando que era capaz dos mesmos aparecem lá 5 minutos depois que chegassemos para nos vigiar.
Minutos depois estavamos na traseira de uma caminhote rumo ao fim do mundo e em busca de diversão, não dava para acreditar que em poucos instantes estariamos armando acampamento e ficaríamos 3 dias fazendo o que bem entendêssemos sem dar satisfações a ninguém!


[continua]

2 comentários:

Euzer Lopes disse...

Essa sua viagem de "3 dias para recordar" me fez viajar na infância.
Vamos ver as outras duas partes para onde vão me levar.

Alberto Pereira Jr. disse...

eu nunca acampei.. deve ter sido bem massa hein?